Quando ainda morava no Brasil, ao sair para
levar minha filha na natação, na portaria do prédio, vejo uma senhora sentada
no sofá arrumando a bolsa. Laurinha olhou para ela e começou a sorrir. Ela
perguntou se nos éramos moradoras e engrenamos um assunto...
Disse que tinha acabado de fazer uma
entrevista de emprego, mas que a dona da casa precisava de alguém aos sábados;
coisa que ela não queria. Eu disse que coincidentemente também precisava de
alguém mas só de segunda à sexta.
Vendo aquela mulher com um semblante tão
bom, dentro do prédio e saída de outro apartamento, convidei-a para subir e
disse que poderíamos fazer uma entrevista naquela mesma hora.
O papo fluiu fácil e ela disse estar precisando
muito de emprego. Que durante 20 anos trabalhou para uma família, junto com a
cunhada que estava na mesma casa há 25 anos. Explicou que o antigo empregador
teve problemas financeiros e se viu obrigado à enxugar custos. Sendo assim,
permaneceu com a cunhada que estava há mais tempo, priorizando anterioridade no
serviço e ela acabou sendo sacrificada.
Fiquei aliviada de ter encontrado uma
pessoa tão boa e de tantas qualidades. Combinamos que começaria na segunda.
Chegou no horário marcado e rapidamente dei
as boas vindas indo para a ginástica.
Quarenta minutos se passam e a babá me liga
chorando:
-
Dona Olga, a empregada nova
roubou aquela bolsa de viagem que a senhora me deu.
-
Como assim Geralda?
-
Tirou minhas coisas que estavam
dentro e foi embora.
-
Quem iria querer levar uma
bolsa vazia? Deve ser um mal entendido...
-
Não é não, o porteiro disse que
ela saiu carregando algo pesado.
-
Estou indo para aí, fica calma.
O prédio tinha câmera no elevador, ao
chegar o porteiro estava olhando a gravação.
A cena era a da minha nova ajudante
carregando com muito esforço a bolsa de viagem da Geralda. Fiquei pensando o
que ela poderia ter levado... Quando me lembrei que um amigo de brincadeira nos
deu de presente um cofre daqueles grandes, que podem ser chumbados na parede. O
nosso não era e ficava dentro do meu closet. Dentro, apenas nossos passaportes
e MAIS NADA!!!!! Foi só o que ela levou!!!!!
Fiquei indignada e tive dois insights. O
primeiro falar com a moradora que a entrevistou e o segundo dar queixa na
policia, para que não acontecesse com mais ninguém.
Lá fui eu tocar no oitavo andar. A
moradora, me disse que já na entrevista desconfiou ao pedir os documentos. Ela
apresentou somente um CPF, dizendo que traria o restante depois.
Eu perguntei:
-
Mas vc não precisava dela aos
sábados?
-
Não...
-
Como ela veio parar na sua
casa?
-
Minha empregada indicou...
Fiquei sem entender, mas estava tão
preocupada em dar parte na polícia que deixei essa peça do quebra cabeça
faltando...
A gatuna, percebendo a desconfiança da
minha vizinha, me achou uma presa mais fácil, pois nem me incomodei com o fato
dela só me apresentar os documentos na segunda. Afinal, pensei, ela já havia
sido triada...
Chegando na delegacia do Leblon, ao falar
com o delegado, ele me disse:
-
Ando na cola dessa mulher mas
não consigo pegar... Ela age na Zona Sul, preferencialmente nos bairros da
Gávea e do Leblon e já chegou a dar um rombo de 200 mil dólares em uma das
casas. Estou até escrevendo um livro sobre ela chamado:
A Vizinha do 101.
A Vizinha do 101.
-
Mas como ela consegue as referências???
-
Ela aborda as empregadas que
estão saindo dos respectivos trabalhos no ponto do ônibus com a seguinte história:
Diz que acabou de ficar viúva, que nunca
trabalhou em casa de família, que o marido é quem sempre pagou as contas e que
de uma hora para outra se viu sem nada. Pedia para por favor para as moças indicarem
ela dizendo que era amiga de muitos anos e que era de extrema confiança. Como
todo bom vigarista, ela tinha uma lábia sensacional, uma aparência melhor ainda
e dizia saber fazer tudo e muito bem!!!!
Foi assim que parou no meu prédio... Depois
fui conferir com a moradora e a versão batia...
Agora bem feito para essa mulher, queria
ver a cara dela abrindo o cofre e encontrando... 4 PASSAPORTES!!!!!!
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