quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Poliglota

O blog me proporcionou conhecer algumas pessoas que não são da turma de brasileiros com os quais me relaciono. Outro dia fui almoçar com uma delas e conversando descobri que ela falava seis línguas.
Perguntei de onde veio esse incentivo, pois na nossa geração não era assim. 
Ela contou que cresceu com o pai dizendo:
- Você não é brasileira, você é uma cidadã do mundo.
Aos 8 anos matriculou-a no inglês, aos 10 no francês, 11 espanhol e 13 no alemão.
E atenção, todas ao mesmo tempo. Ela não entrou no alemão e saiu do inglês não... A sexta língua aprendeu fazendo intercâmbio na Itália.
Eu perguntei se ele não ficava preocupado em sobrecarregar uma criança com tantas atividades... ainda tinha o ballet e a natação.
Ela disse que não!!!
Bem... tudo tem um porque....
Vamos chamar o pai dela de João.
Nasceu numa cidade no interior do Nordeste brasileiro em condições miseráveis. Seus pais apesar de analfabetos, tinham noção e praticavam controle de natalidade, pois não queriam botar um monte de filho no mundo, naquela época era comum ter uma “penca” deles.
Um dia, um padre alemão passou pelo vilarejo deles para rezar uma missa e o pai de João implorou para que ele levasse seus dois filhos para a cidade onde morava a uns 200 kms dali e desse a possibilidade de um futuro melhor para as crianças (João com 8 e José com 15 anos). Já na primeira parada do percurso, José foge sem avisar, deixando João sozinho. Dez anos se passam e ele termina a escola.
Com 18 anos os meninos que se formavam eram levados para o Rio Grande do Sul para se tornarem seminaristas (futuros padres). Era muito comum assim que chegavam ao Sul, fugirem. João resolveu ainda no Nordeste falar com o padre. Agradeceu muito a oportunidade, mas disse que preferia ser honesto e foi logo avisando que gostava mesmo era de mulher. Ele ficou sensibilizado com a franqueza do rapaz e disse:
- Eu vou te ajudar.
Arrumou um emprego para ele numa livraria e no fim do dia o dono por contenção de despesa apagava todas as luzes, só sobrando a ele as velas e os livros. Por ser muito determinado e querer uma vida melhor, durante os dois anos em que lá trabalhou leu muito.
Aos 20 anos, resolveu fazer a prova para entrar na Marinha no RJ e passou em primeiro lugar. Assim que chegou, quis se inscrever para fazer vestibular, mas constatou que o período que passou estudando, a escola que freqüentava não tinha o reconhecimento do MEC. Enquanto trabalhava na Marinha, fez supletivo, e assim que acabou prestou vestibular de direito na Faculdade Cândido Mendes do Centro e passou como bolsista. Hoje em dia é um advogado de muito sucesso!!!
Como no início eu disse que tudo tem um porque, agora ficou claro o porque dele não ter pena da filha... 
Segundo ela, foi a melhor coisa que ele podia ter feito. Recentemente se casou com um alemão e pode se comunicar tranquilamente com ele e com a família!!!!
Ahhhh, quanto ao tio que fugiu, apareceu 20 anos depois e hoje em dia é açougueiro em Santa Catarina.

Vou terminar esse texto com uma frase do Bernardinho:
“A distância entre o sonho e a realidade chama-se DISCIPLINA”.

6 comentários:

  1. muito determinação e disciplina é a receita. beijos16

    ResponderExcluir
  2. E' MESMO! COM DETERMINAÇĀO E MUITA DISCIPLINA,,CHEGA -SE AONDE SE " QUER".... TEM QUE "QUERER""".....QUERER E' PODER ....!!!

    ResponderExcluir
  3. Perseverança, autoconfiança e disciplina são, na minha opinião, a receita para o sucesso.
    Linda história, se o pai tivesse tido pena e receio de sobrecarregar a filha, onde será que ela estaria hoje?
    Beijos
    Tereza

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A menina é um crânio Tereza!!! No dia que eu a conheci, botei as duas mãos no queixo e falei:
      Hoje eu soh quero ouvir....
      Um pessoa muito interessante que virou uma querida amiga!!!!
      Beijos

      Excluir